sexta-feira, 4 de novembro de 2011

Em nome da vaidade

Em nome da vaidade


     Em nome da vaidade humana, vários animais morrem para que possam ser confeccionados os glamorosos casacos de pele. Eles são retirados de seu habitat, aprisionados em gaiolas minúsculas sob maus cuidados para que posteriormente sejam asfixiados, eletrocutados e entre outras práticas para que o estilo de morte não danifique o pelo, e em alguns casos é apenas um desmaio e os animais acordam quando ainda estão sendo esfolados.




Para fazer um casado de pele médio são necessárias 100 chinchilas.


     O ser humano pouco se importa quantos animais terá de matar para satisfazer sua luxúria, afinal, são só animais. Mas são “somente” animais? O que faz de nós humanos melhores que qualquer outro animal, afinal, somos tão animais quanto nosso cachorro, gato e até mesmo os coelhos e as raposas que morrem para que sua pele fique guardada no guarda-roupas de alguma madame.

     Alguns certamente me perguntarão: “mas o que isso tem a ver com conscientização social e alienação?”. Eu diria que tudo. Viver em sociedade não é apenas viver entre outros humanos. Nós vivemos entre outros animais também. Nós nos comunicamos de alguma maneira ou outra com eles e o fato de sermos animais racionais não nos faz melhor que eles e muito menos os excluem do nosso convívio, e a propósito, a cada dia estão mais ligados a nós. Os cachorros e gatos domésticos, por exemplo, são tratados como seres humanos atualmente, há leis contra maus tratos a eles. E os outros animais como ficam? Por que a lei não se estende a estes animais também? E mesmo tendo uma lei contra maus tratos, ainda são abandonados como se não fossem nada a além de um pedaço de pele, o que para os assassinos de raposas, chinchilas, coelhos e outros, devem ser apenas.

     O modo de sobrevivência de alguns animais são os pelos, as unhas que os protegem, a visão, o olfato e a audição aguçados. E nós humanos? Somos os animais que foram desprovidos de tudo isso e que a nossa forma de sobrevivência veio a ser o raciocínio e que, em minha sincera opinião, a usamos muito mal.

     Li num livro certa vez que houve um assassino que matava pessoas, comia suas carnes e com suas peles fazia abajur. Terrível, não é mesmo? Por que então matar animais para jogar suas carnes fora e usar suas peles por cima das nossas não soa tão assustador?



Alienados, uni-vos!
 






Autora: Pauline Marcela Fabrício da Silva Gomes
Estudante de graduação em Psicologia - PUCRS
pauline.gomes@acad.pucrs.br

Individualismo: até quando?

Individualismo: até quando?

O individualismo está cada vez mais instaurado nas relações sociais atuais. Vemos pessoas passando apressadas para seus trabalhos, para seus estudos, enfim, para seus compromissos que se acumulam pelo fato do dia não ter mais que 24 horas.

Filme: Ensaio sobre a Cegueira

            Acreditamos que com isso, as pessoas passam a não ter mais tempo para o outro, tempo para sentir o outro, olhar para o outro, perceber o outro. Nós nos acumulamos de tarefas para ter um futuro “melhor”, mas e o presente? Enquanto estamos trabalhando para ganhar dinheiro, deixamos de viver. Buscamos apenas o valor material para nós mesmo e esquecemos que a vida é mais do que adquirir bens. Somente acumulamos dinheiro para depois gastá-lo durante uma doença. Estamos cegos diante ao outro e diante a vida.

Até os dias passam apressados ultimamente, e quando dezembro chega, vem junto a melancolia de não ter feito nem a metade do que pretendia. Paradoxal não é mesmo?

Com o auxilio da internet falamos com pessoas do mundo inteiro. Mas será que falamos mesmo? Muitas conversas são do tipo “Oi, tudo bem?” A pessoa do outro lado, completamente triste por uma série de razões diz: “Tudo!”. Isso acontece por diversos motivos: a sociedade exige que sejamos seres perfeitos (meta inatingível) com discursos de felicidade e saúde absolutos; pelo próprio não querer “incomodar” o outro; pelo não querer se expor e mostrar ao outro quem realmente é; entre outros. Relações supérfluas, vazias de sentimentos na mesma proporção que atingimos o qüingentésimo amigo em um site de relacionamentos.

O ser humano é construído a partir de relações. Que ser humano é esse que faz de tudo para ficar só e ter tudo para si? Que ser humano egoísta é esse que não percebe que com esse tipo de atitude só torna o mundo pior? Quando o Eu não se relaciona, o corpo adoece fisicamente. Aí está uma das causas do aumento das patologias do vazio, da quantidade infindáveis de câncer, das doenças cardíacas cada vez mais freqüentes... O individualismo não é uma questão só de não olhar para o outro, mas de não olhar para si mesmo. O ser humano é um ser de comunicação. Além disso, as pessoas não percebem que tudo o que fazem em relação à sociedade reflete nelas mesmas, e o contrário também é verdadeiro. Até que ponto elas/nós percebem/os isso? Dizer para ter uma visão crítica é fácil, difícil é querer olhar a realidade e abandonar certas ilusões e conformismos.

Qual perspectiva de futuro teremos? O individualismo vai mesmo sobrepor o coletivo? Até quando teremos essa visão fragmentada? O que terá de acontecer para que percebamos que tudo está interligado?


Alienados, uni-vos!
 






Autoras: Madalena Dornelles Pereira Leite
Estudante de graduação em Psicologia - PUCRS
Bolsista de Iniciação Científica - FAPERGS
madalena.leite@acad.pucrs.br
Simone Vargas
Estudante de graduação em Psicologia - PUCRS
simone.avila@acad.pucrs.br

quinta-feira, 3 de novembro de 2011

O Mito do guerreiro na contemporaneidade?

 O Mito do guerreiro na contemporaneidade?


       O  imaginário do homem proporcionou um desenvolvimento de agressividade, honra e heroísmo, como no mito do guerreiro/herói. A visão de mundo que foi construída para eles (por parte devido a esse mito) constitui-se de uma crença de superioridade de gênero sexista, que foi reforçada com a constituição do núcleo familiar. Neste aspecto foram adotadas para o masculino características de valentia, coragem, hierarquia, autoridade, horna. Não é à toa que vemos produções de homens tão violentos e rígidos, como Muammar al-Gaddafi.

       Houve um período (entre a Idade da Pedra e a Nova Era) em que homem significava ser caçador e xamã. O caçador era ágil e astuto para capturar sua presa. Utilizava de ferramentas, disfarces e de força. Era o provedor da carne. O papel de xamã era efetuado antes e após as caças, quando homens realizavam rituais para que a caça gerasse bons resultados. As mulheres, neste período, incumbiram-se da colheita, dominando os mistérios do cultivo. Graças à agricultura criada pela mulher, o cultivo de grãos pode manter grupos de pessoas em locais por tempo maior, possibilitando também a pecuária e domesticação de animais. Assim, a fertilidade tornou-se tão importante a ponto de se transformar em Deusa, devido a valorização do feminino em nível materno, pois filhos eram uma peça-chave para o desenvolvimento (o que gerou um aumento considerável da raça humana). Os homens, caçadores, eram então servos da maternidade e feminilidade. No entanto, com o tempo a terra tornava-se infértil e a necessidade de migrar para outras terras surgia. Mas existia um problema: a população havia aumentado, os territórios já estavam ocupados por diferentes tribos. Para obter estes, foi criada então a guerra. O caçador, com suas habilidades de matar tornou-se peça chave para a conquista territorial, surgindo o papel de guerreiro. As mulheres, como cuidavam do cultivo de plantas, não eram habilidosas com a luta corporal. A partir disto ocorreu uma inversão de valores: o masculino estava dominando, a Deusa estava sucumbindo aos Deuses homens que representavam o guerreiro. A masculinidade era então voltada para a guerra, onde o arquétipo de herói nascia. Os meninos eram ensinados a serem destemidos, lutadores, agressivos. Eles eram preferíveis por seus progenitores pela simples questão da sobrevivência, pois eram os guerreiros que lutavam pelo território. Assim então surge o mito do guerreiro, papel inventado para o homem por questões adaptativas de divisões de tarefas.

        Me pergunto como ainda podem ser reproduzidos estes pensamentos sem a reflexão necessária. Será que é tão difícil observar estas características do guerreiro nos homens da atual sociedade? Acredito que se olharmos para a violência doméstica, política e econômica conseguiremos enxergar aqueles lutadores de um período já finalizado.


 Alienados, uni-vos!
 




Autor: Gustavo Affonso Gomes
Estudante de graduação em Psicologia - PUCRS
gagomes89@gmail.com

Indivíduo e sociedade

 Indivíduo e sociedade


Como conceituar sociedade e indivíduo? Podemos afirmar que os indivíduos determinam a constituição de uma determinada sociedade e vice-e-versa? 


Na perspectiva de Norbert Elias, de maneira geral, são nos apresentado dois modelos conceituais polarizados para definir sociedade e a relação dos seres humanos e a sociedade. Segundo este autor, a formação da sociedade, considerando as duas abordagens conceituais: (1) apresentam as formações sócio-históricas como sendo concebidas, planejadas e criadas, por diversos indivíduos ou organismos. As instituições tais como Estado, Governo, Família foram criadas por indivíduos específicos para atenderem objetivos específicos e de interesse particular. O indivíduo desempenha papel determinante para a criação e manutenção de uma determinada sociedade; (2) o indivíduo não desempenha nenhum papel na constituição de uma determinada sociedade. Esta se desenvolve de forma supra-individual e seus modelos conceituais são extraídos das ciências naturais, principalmente da biologia.


Também, diz Elias (1994), quando se busca a compreensão dos seres humanos e a sociedade, em uma dimensão psicológica, também nos deparamos com duas correntes antagônicas: (1) o indivíduo é percebido como algo particular em que o estudo de suas funções psicológicas independe de estudar as suas relações com as demais pessoas; (2) na psicologia social ou de massa, não há nenhuma consideração pelas funções psicológicas do indivíduo singular. É comum que os fenômenos sócio-psicológicos sejam demonstrados por dados estatísticos, com apresentação de médias das manifestações psicológicas de muitos indivíduos e sendo divulgadas e percebidas como evidências relevantes na pesquisa psicológica.


A controvérsia em meados do século XX estabelecia-se entre aqueles que acreditavam ser a “sociedade” um meio para atingir sua finalidade, o bem estar dos indivíduos, e os que acreditavam que o bem estar dos indivíduos é menos importante que a manutenção da sociedade que o indivíduo integra, sendo esta, a sociedade, a finalidade da vida individual. Os modelos conceituais apresentados para dar conta de uma ordem social, baseados nesta controvérsia, sempre privilegiam uma em detrimento da outra. Desta forma, o equilíbrio entre, o atendimento das necessidades e inclinações pessoais dos indivíduos e as exigências feitas a cada indivíduo pelo trabalho cooperativo de muitos, em busca da manutenção e eficiência da sociedade, nos parece praticamente impossível. Entretanto, é importante ter consciência de que uma vida comunitária livre de tensões e conflitos só é possível se os indivíduos desta comunidade, em sua totalidade, usufruírem de satisfação suficiente; e, uma existência individual mais satisfatória depende da existência de uma sociedade mais livre de tensões e conflitos.   


Para Elias (1994), o que precisamos são modelos conceituais e uma visão global que possibilite tornar compreensível no nosso pensamento: como os indivíduos se relacionam; como constituem uma sociedade; e como esta se modifica sem que essa modificação seja pretendida e planejada por qualquer indivíduo que a compõem. A reflexão sobre a relação entre indivíduo e sociedade provém de hábitos metais específicos que hoje se acham demasiadamente arraigados na consciência de cada um de nós. Ao invés de pensarmos em analisar o indivíduo e a sociedade como objetos isolados e únicos, é necessário pensar em termos de relações e funções.   


As pessoas de uma sociedade ocupam lugares e funções específicas que não são por elas determinadas. Estes lugares e funções, integrantes de uma forma de vida em comum, são oferecidos ao indivíduo de forma mais ou menos restrita. O complexo funcional de estrutura social ao qual o indivíduo esta inserido desde o seu nascimento limita-lhe desde o seu desenvolvimento até a sua liberdade de escolha. O passado, a história, sua e das pessoas com ele envolvidas, o acompanha em todos os dias de sua vida.


O indivíduo torna-se dependente da rede de funções que integram a complexa estrutura social na qual está inserido, podendo romper com essas dependências somente até onde a própria estrutura dessas dependências o permita. A rede de funções interdependentes que conferem a uma sociedade seu caráter específico por meio de sua estrutura e seus padrões, não é criação de indivíduos particulares, pois cada indivíduo, independente de seu poder, exerce uma única função que é formada e mantida em relação a outras funções, “as quais só podem ser entendidas em termos da estrutura especifica e das tensões especificas desse contexto total.”


Todas as funções interdependentes são exercidas de um indivíduo para outros indivíduos. Em uma sociedade complexa, por decorrência da interdependência das funções individuais, os atos de muitos indivíduos distintos precisam vincular-se, formando cadeias de atos que farão com que as ações de cada indivíduo cumpram suas finalidades. Vivemos em permanente dependência funcional de outras pessoas, formando cadeias que são ligadas a outras cadeias por elos, por outras pessoas. Essa rede de funções que as pessoas desempenham umas em relação a outras chamamos de “sociedade”. As estruturas sociais são as estruturas da sociedade. As leis sociais ou regularidades sociais são “leis autônomas das relações entre as pessoas individualmente consideradas”.


O que liga as pessoas à sociedade é a disposição fundamental de sua natureza de depender naturalmente do convívio com outras pessoas, pois é “somente na relação com outros seres humanos é que a criatura impulsiva e desamparada que vem ao mundo se transforma na pessoa psicologicamente desenvolvida que tem caráter de um indivíduo e merece o nome de ser humano adulto.” Todo o seu desenvolvimento psicológico depende da estrutura do grupo na qual o indivíduo cresce, da posição que o indivíduo ocupa nesse grupo e do processo formador que ela acarreta. Mesmo que duas pessoas façam parte do mesmo grupo e ocupem a mesma função, suas relações e suas histórias de vida não serão idênticas. “Cada pessoa parte de uma posição única em sua rede de relações e atravessa uma história singular até chegar à morte.” Nas sociedades complexas o grau de individualização é muito maior do que nas sociedades mais simples. 


A constituição que cada um traz ao nascer e, principalmente, a constituição de suas psíquicas é maleável. Uma criança recém-nascida apresenta os limites e as potencialidades em que pode residir sua forma individual de adulto.  O modo com que essa forma se desenvolve nunca depende exclusivamente de sua constituição, mas da natureza das relações entre ela e as outras pessoas. Essas relações, por mais variadas que sejam, são determinadas em sua estrutura básica, pela estrutura da sociedade em que a criança nasce e que existia antes dela. O desenvolvimento da consciência e dos instintos de cada criança recém-nascida está diretamente relacionado com estrutura preexistente de relações em que eles cresçam. “A individualidade que o ser humano acaba por desenvolver não depende apenas de sua constituição natural, mas de todo o processo de individualização.” A formação individual de cada pessoa depende da evolução histórica do padrão social, da estrutura das relações humanas. A uma reestruturação especifica das relações humanas denomina-se de eventos sociais e desses podem decorrer mudanças na formação individual das pessoas.


A historicidade de cada indivíduo, o fenômeno do crescimento até a idade adulta é a chave para a compreensão do que é a sociedade. O desenvolvimento psíquico da criança se dá através da relação com seres mais velhos e mais poderosos. Por isto, a individualidade do adulto só pode ser entendida pelas relações que lhe são oferecidas pelo destino e apenas em conexão com a estrutura da sociedade em que ele cresce. Sua marca individual é adquirida através das relações, das dependências e da história de toda a rede humana em que cresce e vive. Toda maneira como o individuo se vê e se conduz em suas relações com os outros depende da estrutura da associação ou associações a respeito das quais ele aprende a dizer “nós”.  


A forma de vida comunitária, a estrutura da sociedade ocidental modificou-se e com ela a influência social sobre o indivíduo e sobre a forma de suas funções psíquicas. Na nossa era a sociedade é apresentada como aquilo que impede as pessoas de realizarem os seus desejos e terem uma vida livre e segura. Dessa forma, cada vez mais o indivíduo cria uma auto-imagem de si separada da imagem da sociedade. Não se vê integrando a mesma e esta se torna uma ameaça a suas realizações e a sua natureza íntima.


A aprendizagem social, ao longo da história e do nosso processo civilizatório, desenvolveu um ideal de ego ao indivíduo, no qual sua identidade está alicerçada na sua capacidade de buscar suas realizações por conta própria e na maior diferenciação possível das demais pessoas que constituem o tecido social no qual está inserido. Suas chances de sucesso estão orientadas pelas suas diferenças entre as demais pessoas e não pela sua identidade fundada na ordem natural, pelas suas semelhanças aos demais. Esse jeito de ser não é uma escolha do indivíduo, algo que ele pode livrar-se, quer concorde ou não com ele. Faz parte do seu aprendizado produzido por instituições sociais e experiências específicas de uma determinada estrutura social.


Parcela das possibilidades de felicidade, segundo Freud, esta ultima baseada na liberdade do homem satisfazer suas necessidades por meio dos seus instintos, impulsos e desejos, foi trocada por uma quantidade de segurança. A felicidade não pode ser percebida como um estado permanente, pois “estar feliz” depende de uma situação de contraste. Com isto, a civilização não alcançará o objetivo por ela traçado e as pessoas se tornam neuróticas frente à quantidade de frustrações que a sociedade lhes impõe.  


Dispor os membros como indivíduos é a marca registrada da sociedade moderna. A individualização é um destino, não uma escolha. Os homens e mulheres não têm ninguém para culpar de suas frustrações, a não ser a si mesmos. Todos os seus insucessos e suas falhas são decorrentes da ausência ou fragilidade de suas competências e capacidades. Os riscos e as incertezas da vida de cada um precisam ser combatidos por si mesmo. Esta atribuição de individualização é resultado de uma reciprocidade estabelecida cotidianamente entre os indivíduos constituintes de uma sociedade, a partir de suas ações, e a sociedade modelando a individualidade de seus componentes, na rede socialmente tecida das dependências dos indivíduos.             


A liberdade das pessoas pode torná-las indiferentes ao bem comum, uma vez que a defesa dos interesses comuns deixa de ter sentido na medida em que se contrapõe ao interesse do próprio individuo. Segundo Tocqueville, o indivíduo é o pior inimigo do cidadão.


O interesse público, através das mídias, cada vez mais se vê reduzido à curiosidade a respeito das vidas privadas das figuras públicas, limitando a arte da vida pública à exposição pública dos casos privados e das confissões públicas de sentimentos privados (quanto mais íntimos melhor). A forma como os problemas das sociedades são expostos pelas mídias, tendem a provocar no indivíduo uma reflexão sobre a sua incapacidade de exercer qualquer controle sobre as questões sociais do seu entorno e, portanto, na sua incapacidade de promover qualquer intervenção em busca de resoluções. Tanto a televisão quanto as outras mídias de comunicação tendem a destruir o interesse pelos assuntos comuns a todos,  mediante uma constante e incansável banalização e personalização das questões políticas. 


Em Bauman (2008) encontramos que, a sensação de perder o controle do presente leva a um definhamento da vontade política, a uma descrença de que algo importante possa ser feito de forma coletiva ou que a ação solidária possa proporcionar uma transformação mais significativa no estado das relações humanas. Quando as pessoas aceitam a impotência de poder controlar as condições de suas próprias vidas, param de se questionar, a sociedade deixa de ser autônoma, tornando-se heterônoma, dirigida por outros, entrando em uma “época da conformidade universalizada”. 


O indivíduo conformado delega a outros a responsabilidade de intervir na busca de soluções dos problemas sociais, desconhecendo que também é impactado por estes problemas e não reconhecendo sua capacidade de intervenção social. Podemos conceituar a isso de indivíduo alienado? Pode ser, mas, confesso que creio, mais do que em um indivíduo alienado, em sociedades que vivem a alienação não por escolha, mas por um destino construído sócio-historicamente. Talvez aí resida a utopia de uma transformação na ordem social. Mas se faz necessária uma nova percepção do indivíduo de si, dos outros e de suas relações de dependências. Precisamos de uma ponte entre as ciências naturais e as ciências sociais. Segundo Elias (2004) a psicologia constitui esta ponte.    


Referências Bibliográficas
BAUMAN, Zygmunt. A sociedade individualizada: vidas contadas e histórias vividas. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 2008.
ELIAS, Norbert. A sociedade dos indivíduos. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 1994. 
GIDDENS, Anthony. Mundo em descontrole. Rio de Janeiro: Editora Record, 2007.


 Alienados, uni-vos!
 



 Autora: Ingra Brando Antunes de Oliveira
Estudante de graduação em Psicologia - PUCRS

quarta-feira, 2 de novembro de 2011

O xis da questão

O xis da questão


       Estamos em 2011, e a maioria das mulheres ainda não se libertou totalmente do estigma de ter que ser santa. Porque digo, “ter que”?  Porque o que vejo é exatamente isso, parece que elas são porque o discurso que vem de longa data faz com que ajam assim e se fugirem do padrão, a sociedade irá condená-las. 

       Para quem não sabe, discurso  de Michel Foucalt é tudo aquilo que não é dito, é tudo aquilo que vem sendo absorvido e massificado pela sociedade através dos tempos  sem questionar, o legítimo “Ir na onda” . 

       Quebramos alguns, mulheres votam, mulheres trabalham . E vocês lembram quando era feio mulher trabalhar? Mulher separada então? Vixe!
Por isso , volto a primeira frase, porque ainda jovens e mulheres vividas enchem-se de regras para viver um romance? 

- Não posso dar em cima daquele cara. O que ele vai pensar de mim?
- Não posso transar no primeiro encontro, ele vai me achar fácil.
- Não posso dizer que gosto de alguma coisa (que julga imprópria) vai que ele tem uma ideia errada de mim?
- Não posso extrapolar, tenho que manter  a classe!

       Vejo manifestações de mulheres em sites de relacionamentos por ai, chamando outra de piriguete só porque a mulher em um ano trocou algumas vezes de namorado. Mulher denegrindo a imagem de outra, propagando assim, o discurso de  santidade.

       Vou além, e talvez arrume briga com algumas mulheres por conta disso, penso que, a mulher que não é amiga de mulher, age assim por pura inveja daquela que teve coragem foi lá e fez.

       Portanto MULHERES, façam sua parte, queimem além do sutiã, queimem o preconceito! Libertem-se, apropriem-se de suas vidas, garanto que valerá a pena!


 Alienados, uni-vos!
 



Autora: Simone Vargas
Estudante de graduação em Psicologia - PUCRS
simone.avila@acad.pucrs.br


segunda-feira, 31 de outubro de 2011

Onde está a consciência social?

Onde está a consciência social?




Cada vez mais a sociedade brasileira é alienada. Ouve-se frases como “Eu não gosto de política!” e “Políticos são todos corruptos!”. Você não gosta de participar ativamente da sociedade? Você quer que outros tomem por você uma decisão que influenciará ou direta ou indiretamente sua vida e de outros? Nós que elegemos esse político, tanto quando votamos nele quanto nos isentamos desse voto! Nós que ficamos parados olhando as pessoas desrespeitarem as leis! Nós mesmos desrespeitamos certas regras “ah,  vou estacionar aqui rapidinho!” – E por você estacionar ali “rapidinho”, uma pessoa ficou impedida de passar e teve seu bebê prematuro morto!   Que hipocrisia é essa? As pessoas não percebem que ao mesmo tempo que reclamam, elas cometem os mesmos erros! Onde está a reflexão diante dos atos cotidianos e suas implicações? Ok, existem muitos fatores que nos levam a ser assim e nos mantêm em um cativeiro alienante, gerando um ciclo vicioso. É necessário antes uma singularização que cause alteridade¹ para que, quem sabe, alguém se torne consciente e aplique seus conhcimentos à sociedade.

           Pois bem! Onde foi parar a crítica social? Quando nos tornamos simplesmente seguidores da massa que aceitam tudo o que o governo dita, cujo benefício nem sempre é repassado ao cidadão? Passaram-se quase 20 anos para que houvesse manifestações de Caras Pintadas novamente! O que aconteceu durante esse tempo? Antes as pessoas estudavam Sociologia e Cidadania na escola. Com a ditadura, não se podia de forma alguma pensar diferente do governo. Essa falta de liberdade se reflete hoje, quando vemos jovens fazendo atrocidades e seguindo as massas em seus discursos alienantes.

Um exemplo dessa reprodução cega é a menina que foi agredida física e verbalmente na escola por ser negra (http://g1.globo.com/parana/noticia/2011/10/policia-apura-queixa-de-aluna-do-pr-que-diz-ter-sido-agredida-por-ser-negra.html). Como essa sociedade vê o ser humano? Aliás, eles percebem que essa menina é um ser humano? Um ser humano como qualquer outro. Às vezes, cabe a escola educar e mostrar outras realidades, outras visões que não a da família. Afinal a educação não é só para o vestibular, mas para a vida (ou assim deveria ser). Quem é que escolhe o que nós devemos aprender afinal?! Como alguém vai saber o que é mais ou menos importante para a sobrevivência? Essa sobrevivência que é ensinada hoje é voltada ao mercado de trabalho, mas e a vida? Quem aprende a cozinhar, lavar, passar, se auto-conhecer, se relacionar com outros ou mesmo a lidar com um luto?

O próprio ensino bancário, onde o professor dita e o aluno escreve sem questionar, acaba por ser alienante. Quando não se dá espaço e nem se incentiva aos estudantes que pensem, questionem e critiquem só estamos criando robôs! O diferencial do ser humano é a razão, mas de que adianta se ela não é usada?

Falando mais de uma visão pessoal, o que me inspirou a falar sobre o assunto foi justamente a reimplementação da matéria de Sociologia no colégio em que eu estudava, em 2009. A proposta era para todos os anos do Ensino Médio. Hoje eu enxergo como nós, estudantes de ensino médio, éramos e provavelmente ainda somos muito alienados. Aquele era o nosso mundo, mas e o que acontece lá fora? Nós vimos em um ano a relatividade da ignorância, a construção social do Brasil, para que entendêssemos como se formou esse país multiétnico e sua composição identitária e a influência do capitalismo nisso. Naquela época foram poucos os que realmente absorveram essas reflexões. Muitos apenas estudavam para passar na prova sem nem mesmo compreender o que os autores dos textos diziam. Simplesmente reproduziam, faziam o que lhe era esperado. Eu admiro a professora que ao menos tentou nos mostrar uma outra forma de ver a sociedade. 


¹ - É um tipo de relação com um objeto ou entre pessoas que a(s) faça sentir um desconforto e que gere conseqüente mudança de comportamento. Exemplo: Martina está andando pela rua quando vê uma pessoa comendo lixo. Ela se choca. Sente-se desconfortável. Quer evitar aquela cena. Mesmo algumas quadras depois, continua a pensar no que viu. Alguns dias depois, nota que mudou a forma como via alguns aspectos de seu cotidiano, como o valor à comida.

 
 Alienados, uni-vos!
 



Autora: Madalena Dornelles Pereira Leite
Estudante de graduação em Psicologia - PUCRS
Bolsista de Iniciação Científica - FAPERGS
madalena.leite@acad.pucrs.br

sexta-feira, 28 de outubro de 2011

Homeless - Um Retrato do Abandono

Homeless - Um Retrato do Abandono

       De acordo com o CENSO do IBGE, há cerca de 192 milhões de habitantes no Brasil. Entre 0,6% a 1% são população de rua, em números há até 1,8 milhões de moradores de rua (ou em estado de rua).

       Não há uma faixa etária para moradores de rua, vai desde crianças a idosos.  Motivos por estarem nessa situação são diversos: abandono, situação econômica desfavorável, condições psicológicas precárias, entre outros. Independente do motivo pelo qual aquela pessoa se encontra em tais condições, são todas vistas da mesma forma pela sociedade, alias, eu diria não vistas pela maioria. Alguns fingem que não veem, outros sentem pena e não sabem o que fazer a respeito, alguns inclusive até acham que foi bem feito para aquela pessoa e dizem que ela está ali porque quer e esquecem de ver a complexidade que tem por trás daquela pessoa, daquela história. Já ouvi alguém dizer que eles estão naquela situação por que são pessoas de mente fraca que aceita aquelas condições e que não querem fazer nada a respeito, que poderiam arrumar um emprego e aos poucos sair dali. Algumas pessoas têm oportunidade de se livrar daquele estado, outras não tem tanta sorte. A questão do trabalho é muitas vezes negada porque os empregadores têm medo dessas pessoas, nojo ou pena e conviver com elas significa ter que sentir aquele desconforto, fora que o mercado de trabalho atualmente exige cada vez mais capacitação profissional vinda de diplomas e experiências anteriores. Essas e outras circunstâncias tiram a oportunidade dessa pessoa de empregar-se. Alguns deles recorrem às drogas e práticas ilegais para conseguir alimento. A sociedade os põem naquela situação, no abandono, em não dar apoio seja de ordem financeira ou psicológica.

       De acordo com Dallari a respeito dos Direitos Humanos, toda pessoa humana tem o direito de que as suas necessidades essenciais sejam atendidas e que tenha uma vida com dignidade para que possa se tornar útil à sociedade e para que possa colher os benefícios que a vida em sociedade pode lhe proporcionar. Agora eu me pergunto: Onde estão os Direitos Humanos dessas pessoas?

       Como inspiração foi usado o clipe da música Saving Us do cantor Serj Tankian, vocalista da banda System Of A Down.







       Algumas das palavras que aparecem no clipe estão respectivamente traduzidas abaixo.

HOMELESS – sem casa
GAMBLING – jogos de azar
PHARMACEUTICALS – produtos farmacêuticos
TERRORISM – terrorismo
REHAB - Reabilitação
STEM CELL RESARCH – pesquisa de células tronco
BIG BUSINESS – grande negócio
ANIMAL TESTING – teste em animais
BOTTLED WATER – água engarrafada
LOVE – amor
FREEDOM – liberdade
N.R.A. (National Rifle Association) - associação que dá direitos aos cidadãos dos EUA a ter armas de fogo
SUCCESS – sucesso
IMMIGRATION - imigração
MARRIAGE – casamento
NUCLEAR TESTING – testes nucleares

GREED – ganância
FEAR – medo
FATE – fatalidade
CHOICE – escolha
CONSUME – consumir
DREAM – sonho
FIGHT – briga
ABUSE – abuso
LUST – luxúria
MARTYR – mártir
DECEIT – engano
WASTE – desperdício
DEBT – dívida
CONFESS – confessar
LOST – perda
DESTINY – destino

WAR – guerra
LEGALIZE MARIJUANA – legalizar a maconha
RELIGION – religião
DIVORCE – divórcio
FBI
CIA
TAXATION – imposto
LIPOSUCTION – lipoaspiração
EDUCATION – educação
GAY RIGHTS – direito dos homossexuais
FAITH – fé
HOPE – esperança

 Alienados, uni-vos!
 




Autor: Pauline Marcela Fabrício de Silva Gomes
Estudante de graduação em Psicologia - PUCRS
pauline.gomes@acad.pucrs.br