segunda-feira, 31 de outubro de 2011

Onde está a consciência social?

Onde está a consciência social?




Cada vez mais a sociedade brasileira é alienada. Ouve-se frases como “Eu não gosto de política!” e “Políticos são todos corruptos!”. Você não gosta de participar ativamente da sociedade? Você quer que outros tomem por você uma decisão que influenciará ou direta ou indiretamente sua vida e de outros? Nós que elegemos esse político, tanto quando votamos nele quanto nos isentamos desse voto! Nós que ficamos parados olhando as pessoas desrespeitarem as leis! Nós mesmos desrespeitamos certas regras “ah,  vou estacionar aqui rapidinho!” – E por você estacionar ali “rapidinho”, uma pessoa ficou impedida de passar e teve seu bebê prematuro morto!   Que hipocrisia é essa? As pessoas não percebem que ao mesmo tempo que reclamam, elas cometem os mesmos erros! Onde está a reflexão diante dos atos cotidianos e suas implicações? Ok, existem muitos fatores que nos levam a ser assim e nos mantêm em um cativeiro alienante, gerando um ciclo vicioso. É necessário antes uma singularização que cause alteridade¹ para que, quem sabe, alguém se torne consciente e aplique seus conhcimentos à sociedade.

           Pois bem! Onde foi parar a crítica social? Quando nos tornamos simplesmente seguidores da massa que aceitam tudo o que o governo dita, cujo benefício nem sempre é repassado ao cidadão? Passaram-se quase 20 anos para que houvesse manifestações de Caras Pintadas novamente! O que aconteceu durante esse tempo? Antes as pessoas estudavam Sociologia e Cidadania na escola. Com a ditadura, não se podia de forma alguma pensar diferente do governo. Essa falta de liberdade se reflete hoje, quando vemos jovens fazendo atrocidades e seguindo as massas em seus discursos alienantes.

Um exemplo dessa reprodução cega é a menina que foi agredida física e verbalmente na escola por ser negra (http://g1.globo.com/parana/noticia/2011/10/policia-apura-queixa-de-aluna-do-pr-que-diz-ter-sido-agredida-por-ser-negra.html). Como essa sociedade vê o ser humano? Aliás, eles percebem que essa menina é um ser humano? Um ser humano como qualquer outro. Às vezes, cabe a escola educar e mostrar outras realidades, outras visões que não a da família. Afinal a educação não é só para o vestibular, mas para a vida (ou assim deveria ser). Quem é que escolhe o que nós devemos aprender afinal?! Como alguém vai saber o que é mais ou menos importante para a sobrevivência? Essa sobrevivência que é ensinada hoje é voltada ao mercado de trabalho, mas e a vida? Quem aprende a cozinhar, lavar, passar, se auto-conhecer, se relacionar com outros ou mesmo a lidar com um luto?

O próprio ensino bancário, onde o professor dita e o aluno escreve sem questionar, acaba por ser alienante. Quando não se dá espaço e nem se incentiva aos estudantes que pensem, questionem e critiquem só estamos criando robôs! O diferencial do ser humano é a razão, mas de que adianta se ela não é usada?

Falando mais de uma visão pessoal, o que me inspirou a falar sobre o assunto foi justamente a reimplementação da matéria de Sociologia no colégio em que eu estudava, em 2009. A proposta era para todos os anos do Ensino Médio. Hoje eu enxergo como nós, estudantes de ensino médio, éramos e provavelmente ainda somos muito alienados. Aquele era o nosso mundo, mas e o que acontece lá fora? Nós vimos em um ano a relatividade da ignorância, a construção social do Brasil, para que entendêssemos como se formou esse país multiétnico e sua composição identitária e a influência do capitalismo nisso. Naquela época foram poucos os que realmente absorveram essas reflexões. Muitos apenas estudavam para passar na prova sem nem mesmo compreender o que os autores dos textos diziam. Simplesmente reproduziam, faziam o que lhe era esperado. Eu admiro a professora que ao menos tentou nos mostrar uma outra forma de ver a sociedade. 


¹ - É um tipo de relação com um objeto ou entre pessoas que a(s) faça sentir um desconforto e que gere conseqüente mudança de comportamento. Exemplo: Martina está andando pela rua quando vê uma pessoa comendo lixo. Ela se choca. Sente-se desconfortável. Quer evitar aquela cena. Mesmo algumas quadras depois, continua a pensar no que viu. Alguns dias depois, nota que mudou a forma como via alguns aspectos de seu cotidiano, como o valor à comida.

 
 Alienados, uni-vos!
 



Autora: Madalena Dornelles Pereira Leite
Estudante de graduação em Psicologia - PUCRS
Bolsista de Iniciação Científica - FAPERGS
madalena.leite@acad.pucrs.br

sexta-feira, 28 de outubro de 2011

Homeless - Um Retrato do Abandono

Homeless - Um Retrato do Abandono

       De acordo com o CENSO do IBGE, há cerca de 192 milhões de habitantes no Brasil. Entre 0,6% a 1% são população de rua, em números há até 1,8 milhões de moradores de rua (ou em estado de rua).

       Não há uma faixa etária para moradores de rua, vai desde crianças a idosos.  Motivos por estarem nessa situação são diversos: abandono, situação econômica desfavorável, condições psicológicas precárias, entre outros. Independente do motivo pelo qual aquela pessoa se encontra em tais condições, são todas vistas da mesma forma pela sociedade, alias, eu diria não vistas pela maioria. Alguns fingem que não veem, outros sentem pena e não sabem o que fazer a respeito, alguns inclusive até acham que foi bem feito para aquela pessoa e dizem que ela está ali porque quer e esquecem de ver a complexidade que tem por trás daquela pessoa, daquela história. Já ouvi alguém dizer que eles estão naquela situação por que são pessoas de mente fraca que aceita aquelas condições e que não querem fazer nada a respeito, que poderiam arrumar um emprego e aos poucos sair dali. Algumas pessoas têm oportunidade de se livrar daquele estado, outras não tem tanta sorte. A questão do trabalho é muitas vezes negada porque os empregadores têm medo dessas pessoas, nojo ou pena e conviver com elas significa ter que sentir aquele desconforto, fora que o mercado de trabalho atualmente exige cada vez mais capacitação profissional vinda de diplomas e experiências anteriores. Essas e outras circunstâncias tiram a oportunidade dessa pessoa de empregar-se. Alguns deles recorrem às drogas e práticas ilegais para conseguir alimento. A sociedade os põem naquela situação, no abandono, em não dar apoio seja de ordem financeira ou psicológica.

       De acordo com Dallari a respeito dos Direitos Humanos, toda pessoa humana tem o direito de que as suas necessidades essenciais sejam atendidas e que tenha uma vida com dignidade para que possa se tornar útil à sociedade e para que possa colher os benefícios que a vida em sociedade pode lhe proporcionar. Agora eu me pergunto: Onde estão os Direitos Humanos dessas pessoas?

       Como inspiração foi usado o clipe da música Saving Us do cantor Serj Tankian, vocalista da banda System Of A Down.







       Algumas das palavras que aparecem no clipe estão respectivamente traduzidas abaixo.

HOMELESS – sem casa
GAMBLING – jogos de azar
PHARMACEUTICALS – produtos farmacêuticos
TERRORISM – terrorismo
REHAB - Reabilitação
STEM CELL RESARCH – pesquisa de células tronco
BIG BUSINESS – grande negócio
ANIMAL TESTING – teste em animais
BOTTLED WATER – água engarrafada
LOVE – amor
FREEDOM – liberdade
N.R.A. (National Rifle Association) - associação que dá direitos aos cidadãos dos EUA a ter armas de fogo
SUCCESS – sucesso
IMMIGRATION - imigração
MARRIAGE – casamento
NUCLEAR TESTING – testes nucleares

GREED – ganância
FEAR – medo
FATE – fatalidade
CHOICE – escolha
CONSUME – consumir
DREAM – sonho
FIGHT – briga
ABUSE – abuso
LUST – luxúria
MARTYR – mártir
DECEIT – engano
WASTE – desperdício
DEBT – dívida
CONFESS – confessar
LOST – perda
DESTINY – destino

WAR – guerra
LEGALIZE MARIJUANA – legalizar a maconha
RELIGION – religião
DIVORCE – divórcio
FBI
CIA
TAXATION – imposto
LIPOSUCTION – lipoaspiração
EDUCATION – educação
GAY RIGHTS – direito dos homossexuais
FAITH – fé
HOPE – esperança

 Alienados, uni-vos!
 




Autor: Pauline Marcela Fabrício de Silva Gomes
Estudante de graduação em Psicologia - PUCRS
pauline.gomes@acad.pucrs.br

terça-feira, 11 de outubro de 2011

Quando as bonecas tomam forma

 Quando as bonecas tomam forma
 




            Os discursos imponentes ligados a beleza estão cada vez mais intrínsecos na nossa sociedade. Inspirada no filme Pequena Miss Sunshine e em programas como Pequenas Misses, trago a vocês esse assunto tão polêmico. Existem vários concursos de beleza infantil, não só em países “desenvolvidos”, mas também em países como o Brasil. Todos os anos distorcem infâncias e reproduzem discursos antes exclusivamente adultos. 





            Nesse tipo de evento, as meninas vestem-se, maquiam-se, produzem-se como adultas. Elas simplesmente parecem as bonecas Barbie. Há a mesma exposição corporal, exigências estéticas e sensualidade de concursos de Miss para adultos. Imagine uma criança preocupada com coisas como o peso, limpeza de pele, massagens e penteados. Que infância é essa? Essas crianças normalmente deixam de brincar, de se divertir, para obsessivamente venerar padrões impossíveis de beleza. Elas crescem acreditando que aquele é o único padrão de beleza possível. A sociedade contemporânea sofre de um vazio de sentido que nesse caso será preenchido pela beleza nessas meninas.

 



 
            Fora a questão da beleza, há uma forte sexualização precoce de quem nem sequer entende isso. Crianças procuram esses concursos por si só como uma expressão do narcisismo, de modo que elas sejam o centro das atenções e possam se sentir importantes. Os pais, por vezes, não percebem o quanto isso pode afetar seus filhos futuramente. Alguns impõem sem perceber aos filhos seus sonhos, como no caso de várias filhas que parecem as mães em miniatura no filme.  As crianças têm um constante desejo de crescer, de se tornarem adultas, o que acaba por fazer com que tomem como modelo quem admiram. As que procuram esse tipo de concurso na busca de um eu ideal impossível, assim como Oliver, a menina gordinha e fora do estereotipo de beleza do filme, somente reproduzem discursos que vêem no cotidiano.

 



            Até que ponto essa escolha é realmente delas?  Em que posição a beleza ficará na hierarquia de valores dessas crianças? E esses pais até que ponto percebem que projetam seu narcisismo e distorcem a infância de seus filhos? E mais: que sociedade é essa que permite tamanha atrocidade com o infantil? 



Cena do filme "Pequena Miss Sunshine", com a personagem Oliver no meio.



 Alienados, uni-vos!
 



Autora: Madalena Dornelles Pereira Leite
Estudante de graduação em Psicologia - PUCRS
Bolsista de Iniciação Científica - FAPERGS
madalena.leite@acad.pucrs.br