terça-feira, 11 de outubro de 2011

Quando as bonecas tomam forma

 Quando as bonecas tomam forma
 




            Os discursos imponentes ligados a beleza estão cada vez mais intrínsecos na nossa sociedade. Inspirada no filme Pequena Miss Sunshine e em programas como Pequenas Misses, trago a vocês esse assunto tão polêmico. Existem vários concursos de beleza infantil, não só em países “desenvolvidos”, mas também em países como o Brasil. Todos os anos distorcem infâncias e reproduzem discursos antes exclusivamente adultos. 





            Nesse tipo de evento, as meninas vestem-se, maquiam-se, produzem-se como adultas. Elas simplesmente parecem as bonecas Barbie. Há a mesma exposição corporal, exigências estéticas e sensualidade de concursos de Miss para adultos. Imagine uma criança preocupada com coisas como o peso, limpeza de pele, massagens e penteados. Que infância é essa? Essas crianças normalmente deixam de brincar, de se divertir, para obsessivamente venerar padrões impossíveis de beleza. Elas crescem acreditando que aquele é o único padrão de beleza possível. A sociedade contemporânea sofre de um vazio de sentido que nesse caso será preenchido pela beleza nessas meninas.

 



 
            Fora a questão da beleza, há uma forte sexualização precoce de quem nem sequer entende isso. Crianças procuram esses concursos por si só como uma expressão do narcisismo, de modo que elas sejam o centro das atenções e possam se sentir importantes. Os pais, por vezes, não percebem o quanto isso pode afetar seus filhos futuramente. Alguns impõem sem perceber aos filhos seus sonhos, como no caso de várias filhas que parecem as mães em miniatura no filme.  As crianças têm um constante desejo de crescer, de se tornarem adultas, o que acaba por fazer com que tomem como modelo quem admiram. As que procuram esse tipo de concurso na busca de um eu ideal impossível, assim como Oliver, a menina gordinha e fora do estereotipo de beleza do filme, somente reproduzem discursos que vêem no cotidiano.

 



            Até que ponto essa escolha é realmente delas?  Em que posição a beleza ficará na hierarquia de valores dessas crianças? E esses pais até que ponto percebem que projetam seu narcisismo e distorcem a infância de seus filhos? E mais: que sociedade é essa que permite tamanha atrocidade com o infantil? 



Cena do filme "Pequena Miss Sunshine", com a personagem Oliver no meio.



 Alienados, uni-vos!
 



Autora: Madalena Dornelles Pereira Leite
Estudante de graduação em Psicologia - PUCRS
Bolsista de Iniciação Científica - FAPERGS
madalena.leite@acad.pucrs.br

17 comentários:

  1. criam objetos sexuais e reclamam de pedófilos depois

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  2. Concordo com tudo isso. Vi uma vez este programa/reality/documentário sobre pequenas misses, e fiquei apavorada. E o mais interessante é que muitas das mães que põe as filhas em concursos assim (ao menos as que foram mostradas no programa), não estão nos padrões que cobram que as filhas estejam. E eu não vi nenhuma guriazinha chorando por querer brincar ou algo assim, mas sim porque não tiraram o primeiro lugar num concurso bobo como esse... a infância está, de fato, extinta. :(

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  3. Eu fico impressionada com esses concursos, porque às vezes eles colocam no palco crianças que mal saber andar! Fora o preparativo que tem ensaios de apresentações que a criança nem está interessada. As mães colocam dentes postiços nas crianças (pq a dentição de leite geralmente não é perfeita), peruca, maquiagem pesada e até depilam as meninas de 4 ou 5 anos que nem tiveram a puberdade ainda!!!Algumas crianças não aguentam a pressão de estar no palco e ter que representar aquilo que foi ensaiado, choram, fogem. Chega a ser até meio cruel. Não conheço a realidade desses concursos em outro país que não os EUA, pq só descobri a existência desse tipo de concurso após ver um programa desses concursos americanos em um canal da NET. Até então prá mim o máximo que podia existir na infância era a Mais Bela Prenda em dia de festa junina!hehehe Mas sabemos bem onde isso vai parar pelo exemplo que desse país que praticamente inventou o bullying, as segregações "Nerds" e "chefes de torcidas", que deu rótulo às "patricinhas".

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  4. Mas só prá constar...eu brinquei de barbie, eu tive muitas barbies, amava as barbies, mas nunca quis ser uma. Eu gostava de brincar com elas, brincar de casinha, gostava do fato de serem bonecas bonitas, perfeitas, cheias de roupinhas perfeitas, casinhas perfeitas...Mas nunca tive uma identificação maior. Nunca quis ser uma mulher praticamente sem quadril, pernas longas, peitos enormes para sua constituição e loiríssima. A barbie é magra demais!hehehe
    Brincar de barbie ou com brinquedos do gênero, por si só, não engessa o ser humano em determinados padrões, no caso, de beleza. Talvez na adolescência, quando realmente a preocupação com o corpo e com a aceitação social tomam forma é que os padrões comportamentais e de beleza comecem a exercer certa influência, o que também não é determinante isolado.

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  5. Sempre fico triste quando vejo qualquer tipo de manifestação, concurso ou coisas onde as pessoas se "movem" única e exclusivamente por um ideal de estética. Não gosto do discurso da beleza, onde a felicidade está no "lindo".
    Mais do que alienação, vejo tudo isso como uma escravidão social.

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  6. Anna Berthier, essas mães muitas vezes projetam nas filhas algo que elas queriam ser. Projetam esses modos de ser, como esse padrão de beleza, para alguém que ainda nem deveria se importar com isso. São os pais e o meio que ensinam e dão possibilidade da criança ter infância, de modo que essas meninas desenvolvem a competitividade e o gosto por coisas adultas, o que até certo ponto é normal. A questão é que está sendo exigido algo que a criança não tem capacidade de entender ainda, como citou a Ana Paula.

    Ana Paula, as meninas podem brincar de Barbie mesmo sem identificação alguma com o padrão estético dela. A questão de parecer Barbies que eu quis dizer não se refere as meninas quererem ser fisicamente como as bonecas, mas "agir" com elas. A própria maquiagem, penteados e trocas de roupas coloridas são formas de se ter como uma espécie de boneca, de brincar com isso, de se experimentar, pois há um certo divertimento nisso. A criança está sendo essa Barbie. O problema disso tudo são os excessos, onde a infância é superada pela competição narcísica, como quando as crianças choram por não ganhar, e o que os adultos fazem com isso, como disse o Anônimo. A maioria do público desse tipo de evento são os pais e as mães das meninas, que as acham lindas e investem psiquica e financeiramente nisso, e os pedófilos, que acabam por conseguir o prazer de observar as crianças e estar cercado delas com discrição.

    Lisiane, esse é só mais um discurso reproduzido cegamente. O que falta é uma reflexão em cima disso. Quando se bota crianças em um meio como esse, muitas vezes, não se explica que apesar de sua beleza estar sendo valorizada (ok, talento também, mas nem tanto) ela não é tudo e é relativa. A criança, quando apoiada por alguém que admira, simplesmente introjeta o que acontece ao ser redor sem qualquer reflexão. Como um concurso pode valorizar a pessoa por um aspecto essencialmente biológico? Qual é o mérito disso?

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  7. Pensando agora na sexualização precoce, isso também tem a ver com o papel da sexualidade da mulher na sociedade, tanto que os concursos são destinados a MENINAS! Elas usam roupas que as fazem sentir como princesas, o que reproduz a idéia de passividade da mulher que espera pelo príncipe encantado. A questão da mulher ser só um objeto sexual, usando roupas mínimas e sensuais, sendo valorizada só pela sua beleza e não pelo conteúdo adquirido, como se ela só servisse de enfeite para ficar ao lado do marido... Enfim, vários discursos perpassam esse assunto.

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  8. Ótimo texto, sintetiza bem algumas reflexões sobre o assunto, que é tão complexo justamente por envolver questionamentos sobre a infância, a imagem da mulher na sociedade e a pressão pelo padrão (inalcançável para a maioria) de beleza.
    Eu não consigo ver nada de positivo nessas competições, para mim é uma aberração que deveria ser abolida da face da Terra. Que tipo de ensinamentos essas crianças estão recebendo? Como será sua auto-estima? Sua relação com os demais?
    Outro problema é a erotização infantil. As meninas são expostas como pedaços de carne desde cedo. A visão da mulher como objeto diminui a empatia em relação à mulher, sendo mais difícil vê-la como um ser humano, digna de respeito. A mulher só é respeitada na nossa sociedade se ela souber "se valorizar", ou seja, se provar para os outros que ela é sim um ser humano, e não somente uma boneca pronta para uso (e abuso).

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  9. Olha realmente isso é deprimente. Numa das minhas cadeiras da faculdade, Redação aplicada às Relações Públicas, um dos temas propostos pelo professor foi algo muito parecido. O ramo da Publicidade está mais de 80% voltado para o consumo infantil, porque, segundo especialistas, são eles quem convencem toda a familia do que precisa ter em casa ou não. A utilização de maquiagens e sapatos até com salto alto tem se tornado frequente pra crianças com menos de 8 anos. O triste dessa situação toda é que elas estão perdendo uma fase muito preciosa da vida, uma fase que eu, pelo menos, lembro com muito carinho e nostalgia...

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  10. Também acho que muitas mães projetam suas próprias expectativas nas filhas que têm a juventude para exercê-las, mas também é preciso levar em consideração que as premiações dos concursos envolvem dinheiro. Não é apenas uma coroa por ser bonita, mas também um cheque.
    Claro que isso não justifica nada! Só estou dando abertura para um outro motivo para essas atrocidades com crianças que ainda não foi abordado aqui.
    Já vi alguns episódios do "Pequenas Misses" e não foram poucas as vezes em que, durante entrevista com as pequenas, elas alegavam que estavam ali para serem eleitas as mais bonitas de todas e ganharem muito dinheiro com isso.
    Então, existe não só uma destruição da infância, como também uma exploração com fins lucrativos dessas crianças!

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  11. Parabéns, Madah! Muito boa a postagem, além dos bons comentários para o blog!

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  12. Realmente deprimente essa perda de infância e que exista e seja visto como normal um concurso em que uma criança tenha que ficar parecida com uma mulher adulta e sexy para ser considerada bonita. Eu já detesto concursos adultos de beleza, os infantis então... De beleza não têm nada!

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  13. Entendo que esse discurso da beleza e do individualismo citado no post é produto do discurso hegemônico capitalista.
    Por vezes, fantasias infantis que são distorcidas pelos pais dessas crianças por não entenderem a fase do desenvolvimento em que seus filho se encontram.
    Assim, os pais alienados por esses discursos "encantadores" transmitem sua alienação, expondo os seus filhos como objetos de beleza.
    Parabéns pelo blog!!

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  14. Gente, é tudo uma questão de ver só um lado da coisa! As pessoas vêem a beleza apenas como algo parcial. Ou você é bonito ou você é feio! Não há uma reflexão sobre quem dita o que é bonito ou o que é feio. Mulher bonita já foi mulher gorda! E agora mulher bonita é mulher magra! O meu professor de História do cursinho disse uma vez que esse ideal de magreza surgiu após uma das grandes guerras (não lembro qual), se não me engano, quando fizeram um desfile com umas russas anoréxicas por causa da fome que a guerra trouxe. O desfile era com o intuito de chocar, mas por algum motivo exploraram aquilo como algo bonito ao passar do tempo... o.O Quem dita essa beleza acaba sendo a mídia, até porque mesmo que os pais sejam conscientes da relatividade da beleza, é bem dificil se desligar totalmente de um discurso hegemônico e ensinar para uma criança (que introjeta tudo a sua volta) que a sociedade inteira está errada.
    O uso da menina como um "pedaço de carne", como disse a Carolina Paiva, é bem paradoxal mesmo. Existe aquele ideal de mulher pura, virgem, delicada, feminina, mas ao mesmo tempo se exige que ela seja sensual, atraente. Ou então aquela frase que diz que 'mulher tem que ser uma puta na cama e dama na sociedade' (algo assim). Olha o peso que existe em cima da mulher! Fora que essa exposição corporal SEMPRE é associada a sexo, que por sua vez é associada a promiscuidade (quando vem da mulher).
    Como disse a Gabi Raabe, dá muito lucro direcionar as vendas para o infantil! Elas ainda não tem noção do valor do dinheiro (se é que um pedaço de papel colorido com numeros tem valor). As crianças importunam os pais, que não conseguem dizer não, e eles tentam preencher o vazio de afeto com bens materiais. Isso tanto estimula o consumismo quando a falta de sentido para essas crianças. No caso do blog eu falei de beleza, mas inúmeras coisas inúteis podem tentar preencher esse vazio. Até lembrei da aula de Humanismo no Sábado agora sobre sentido da vida, onde o nosso colega Ênio falou um pouco da sua experiência de vida dizendo que muitas coisas que quando jovens nós achamos vitais aos poucos vamos percebendo que elas não tem sentido.
    Deborah Gomes, com certeza algumas dessas crianças são obrigadas pelos pais a participar desses concursos. É um dinheiro bom e fácil. Mas a que custo?
    Eu descobri olhando Pequenas Misses esses dias que existe uma categoria masculina nesses concursos! Ela é bem menor e só são aceitos meninos até 7 anos, eu acho. No programa que eu vi, o menino de 7 anos ia deixar de participar de concursos por que ele já não era mais tão fofo. Ou seja objetivo era ser FOFO! As meninas tem que ser mais que fofas, tem que pular etapas de seu desenvolvimento por algumas horas transformando-se em adultas fisicamente!
    ¬¬"

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  15. Enquanto não houver uma conscientização geral do grande mal que isso acarretará no futuro, teus questionamentos não terão resposta. :(

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  16. Tenho receio que esta infância construída possa trazer grandes complicações no desenvolvimento destas criança, antecipando nelas comportamento e experiencias.
    Sera que as mães não fazem a menor ideia da transferência que estão fazendo nestes inocentes, não é por dinheiro, ou um bem necessário, mas sim uma frustração deste responsável de por não ter seguido uma vontade sua inconsciente e agora vivem em uma busca narcísica transferindo e comprometendo os seus próprios filhos.
    Elas precisão de um alerta...

    Diego Keller

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  17. Yáskara Arrial Palma31 de outubro de 2011 às 21:56

    Madah e Gustavo, adorei o blog!!! Os assuntos são muito pertinentes, com certeza muito importantes para discussão!! E gostei muito dos seus comentários tb madh, muitos pontos no grupo : ) beijinho!! yá.

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